Reenvia-te by Francisco Valverde Arsénio

Reenvia na volta do correio a outra parte de mim, aquela que partiu juntamente contigo, reenvia de volta porque assim não sei quem sou, tão nu de mim. Que posso fazer com a parte que ficou onde as palavras são invisíveis e as frases indecifráveis? Ando aqui neste lume brando ante os teus olhos! Fecho-me num soluço onde ficas perdida nesse mar de papoilas e…sei-te aí entre mim…caos organizado no amanhã de hoje e de nós, sei-te aí olhando-me entre as palavras ungidas dos nossos quereres, seiva torrente de lava, amando-me; amando-te; amanheceres. És o fado cantado que emerge rumo ao nada de tudo, és nirvana intemporal alto de todos os cantos mudos. Olho-te… Sinto-te em cada poro na espera, mesclo-te no pincel onde estou outra vez usurpando os teus olhos… Risco-te no arco-íris antes de anoitecer, és um misto de mil amores, tento descrever-te sem palavras, insisto-me … Sei-te no outro lado de mim. Diz-me como fazer amor na monotonia da noite vazia de ti! Perco-me nas linhas e nos pequenos fragmentos que compõem o teu corpo e broto todo o êxtase no enigma que sou. Reenvia na volta do correio a outra parte de mim… vem… por inteiro.

- Francisco Valverde Arsénio -

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