Travessia by Maria Luisa Ribeiro

Celebro a travessia:
no meio do deserto
a passarela.
O meu exército
de luas
cansado do caminho
cansado da viagem
ferido de espinhos
se apega à existência
de um Deus humano
e único

Um Deus
que mora ao lado
e sabe que sou gente
um Deus apaixonado
que sabe que o poeta
é bicho descuidado
que põe o coração
no disco voador.

Celebro a travessia:
quando esta dor ficar
atrás das minhas costas
hei de perder de vista
a casa decomposta
e ser um bangalô
marcado de poesia.

Um brilho diferente
há de entrar na casa
para incendiar
o meu colchão
de penas
ligar a luz da sala
abrir minhas janelas
trazer-me
um novo amor
que seja amor
apenas.

(Maria Luisa Ribeiro)

Um comentário: