Paixão by Affonso Romano de Sant´Anna


Feito um vendaval, Paixão é a alucinação amorosa. E os apaixonados são de duas espécies: os generosos, que se dão inteiramente, se jogando nas mãos dos outros, e os possessivos, que querem que o outro se incorpore a eles convertidos em sombra viva. Paixão, por isto, é arma de dois gumes. E corta.
E sangra. Se não sangrou, se não teve insônia, se não desesperou, paixão não era. Talvez fosse desejo, que o desejo é diferente. No desejo a gente quer o outro para possuir apenas, passageiramente. Na paixão, não. Na paixão, a gente quer se fundir com o outro, para sempre. Existe diferença entre amor e paixão? Existe... No amor, claro que há luminosa coabitação.
Mas o amor é também paciente construção. Já a paixão é arrebatamento puro e a voragem, é tão grande que pode tudo se esgotar de repente. Quantas vezes se apaixonam numa vida?
Há gente que vive se inventando paixões para viver. E há gente que organiza toda sua vida em torno de uma única e consumidora paixão. Paixão é transgressão. Quanto mais obstáculos inventarem, mais o apaixonado os saltará. E o apaixonado não tem medo do ridículo. O que lhe importa o mundo se o seu mundo é apenas o mundo da pessoa amada?
A paixão tem cor. É roxa. E é vermelha. Pressupõe morte e ressurreição.
                    Da paixão vivemos muito.
                                          Da paixão morremos sempre

(Affonso Romano de Sant´Anna)

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