Rendido às promessas do sol, sou do avesso. Faço
do cansaço minha sombra e da queda o meu compasso. Rendido às juras da lua, sou
loucura. Enfeito caminho com fita onde amarro meus sonhos no pulso; sonhos de
todas as cores, pra colorir minha vida e namorar meus amores, pra sarar minhas
feridas e curar minhas dores. Caminho entre os trevos e folhas de arruda; a
fechar meu corpo todo pra tristeza e abrir Alma toda pro sorriso. Visto-me de
cantigas e paisagens; faço da nuvem travesseiro e traço de giz o horizonte que
escolho pra mim. Convido a boa-sorte pra ser meu par; e nas tempestades, danço
chuva e tomo banho de descarrego. Canto outras línguas, falo outros olhos, dou
voo às asas, trago o céu às estrelas e presenteio metade com inteiro. Sou grão,
sou chão, a terra, a mãe, besouro, e o centeio. Tenho planos de salvar o vento
e a semente, do esquecimento. Pois sou lembrança liberta de passado empoeirado
que ensina lição do vir-a-ser. Porque cabe liberdade e canção toda num só
passarinho. Porque meu Amor vive no teu nome; e porque minha paz mora no teu
abraço. E desajeitado com a coerência das palavras, confesso um mundaréu de
esquinas e novidades aqui ocultas, pedindo todas elas por cadinho de sabedoria.
Saber que revela. Sabor que me nutre. Amor que me (im)pulsa. A me aceitar ponte
entre céu e precipício, sombras e doçuras; costurando uma na outra pra ver qual
desenho eu serei amanhã. Sou alegria que se junta nos verbos em que me conto e
nos pronomes em que estou pra falar nas entrelinhas minha gratidão por ser,
estar, permanecer, ficar, partir, voar...
- Guilherme Antunes -
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