Queria ser poeta… hoje! Queria saber para que mundo me leva
ou traz as palavras que escrevo, queria saber para onde correm as lágrimas e os
sorrisos. Queria ser poeta por um instante, uma fracção de tempo, o tempo
suficiente para haver verso sem reverso, haver tudo e nada, tu e eu, eu e os
teus olhos rasos de tinta. Queria ser o poeta que canta a nudez da noite e a
viagem silenciosa de uma estrela, viver entre as nuvens e o teu colo, entre os
átomos que amarram a existência do humano e os incertos lugares que separam as
bolas de sabão sopradas por uma criança. Queria ser poeta e a noite longa que
te levou de mim… Mas não sou poeta, se fosse não teria o meu mundo encerrado no
sótão da casa das palavras caladas, nem deixaria sem voz as vozes que jazem
amordaçadas. Não! Não sou poeta, não faço quadras nem sextilhas com rima, não
sou um contador de sonhos nem um ilusionista do pensamento, não sou um
discípulo dos deuses… quanto muito, sou um caminhante de guitarra às costas e
que dedilha frases sem partitura. Ser poeta é ser amante maior, é ter a virtude
de ver refletido luares incandescentes em noites de lua nova, é morrer no mesmo
mar onde desfalecem os rios, é ter palavras sem endereço mas que te encontrem
sempre onde quer que estejas. Ser poeta é ter as mãos cheias de montanhas e o
coração com a forma de um grito. Queria ser poeta… hoje… Pai.
© Francisco
Valverde Arsénio
Querendo, acho que conseguiu ser! Gostei do que li! Abraços!
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