As saudades custam caro.
Custam algumas lágrimas que teimam em
cair. O leite derramado por pura displicência. Cremes para esconder as olheiras
de noites sem dormir. Falta de paciência com as coisas mais simples. Cansaço na
vista de tanto olhar o visor do celular. Músicas que tocam repentinas vezes
para lembrar-se do infeliz. Promessas feitas no analista, pra esquecer o
sujeito e nunca cumpridas pela necessidade de um medíocre afago na alma.
Toneladas de papeis escritos e nunca enviados. Custa o desconforto emocional
das lembranças contidas no cheiro que ficou no ar.
Custa a coberta amarrotada. Os
dissabores do presente sem a alegria do passado. A palavra engasgada e o
sentimento suprimido. Custa o chá de erva cidreira. O antidepressivo. As
sonolências da madrugada. Os carneirinhos da insônia. Os sonhos guardados na
caixa. O DVD mudo com a cena romântica na tela. A falta de um colo. A história
pela metade. Vertigens enjoadas. Gosto denso do nada. As tardes longas demais.
Os finais de semana no velho sofá. Telefone mudo, doido pra fazer barulho.
Saudade custa tão caro que é melhor
intimá-la a ir embora. E se não fizermos isso, ficaremos pobres, pedintes,
babacas, usando apenas o resto da saudade.
- Ita Portugal -
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