O Corpo by Joaquim Pessoa


Revelam-se puros os meus dedos
sobre a tua pele,
onde me deito e o desejo rasga
a minha voz em asas de silêncio.
Acendem-se como lâmpadas para te encontrar
e, como aves libertas, acordam a noite,
poisam devagar nas tuas pernas,
debicam os teus seios
e descem lentamente as tuas costas até ao fundo
e surpreendem-se,
enlouquecem nas tuas nádegas macias e brancas,
quentes, como os alegres pães da minha infância.

E o teu corpo estremece,
desperta para uma interminável madrugada
onde não há palavras,
onde não são precisas palavras,
e uma intensa alegria tem o sabor dos teus beijos
quando os nossos lábios acendem
uma fogueira de rosas
que ilumina a solidão pela noite fora.

E tudo me perturba. De tudo me esqueço
quando nos tocamos, assim, até ao fundo.
Quando me ofereces no teu corpo
a paisagem livre e apetecida de um campo perfumado,
um sereno lago,
o bosque vivo e húmido que me desafia e atrai,
onde me encontro e perco.

Oh, ama-me. Sem horas. Sem palavras.
Deixa-me esperar contigo a madrugada.
Sim, deixa que os meus dedos
como potros em fuga percorram mil vezes
as dunas do teu corpo
e se escondam depois para dormir
nos teus cabelos.

Deixa-me penetrar em ti como se fosse a última vez
e nada existisse depois.
Deixa que todo o amor percorra as nossas veias
até que nos doa o sangue,
até que os beijos nos desfaçam a boca
e os nossos corpos atinjam o orgasmo das estrelas
e das rosas,
até que nada nos separe
a caminho de nós.

Joaquim Pessoa
in OS OLHOS DE ISA.


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