“Amo-te tanto que te não sei amar, amo
tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos
perdemos se a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que
a carne de que és feita, se o nosso casamento definhou de mocidade como outros
de velhice, se depois de ti a minha solidão incha do teu cheiro, do entusiasmo
dos teus projetos e do redondo das tuas nádegas, se sufoco da ternura de que
não consigo falar, aqui neste momento, amor, me despeço e te chamo sabendo que
não virás e desejando que venhas do mesmo modo que, como diz Molero, um cego
espera os olhos que encomendou pelo correio.”
- António Lobo Antunes -
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