"A
afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e
penetrante dos sentimentos.
O mais
independente(...)
É uma vitória
do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo
sobre o objetivo.
Do permanente
sobre o passageiro.
Do básico
sobre o superficial.
Ter afinidade
é muito raro.
Afinidade é
ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que
impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar
conversando sem trocar palavra.
É receber o
que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é
sentir com.
Nem sentir
contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente
ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam
e sentem para o ser amado, não para eles próprios.
Sentir com é
não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e
perceber.
É mais calar
do que falar.
Ou quando é
falar, jamais explicar, apenas afirmar.
Afinidade é
jamais sentir por.
Quem sente
por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem
sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende
sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para
poder questionar.
Quem não tem
afinidade, questiona por não aceitar.
Só entra em
relação rica e saudável com o outro,
quem aceita
para poder questionar.
Não sei se
sou claro: quem aceita para poder questionar,
não nega ao
outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E,
aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é
afinidade.
Mas o
habitual é vermos alguém questionar porque não aceita
o outro como
ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento
de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento
de não afins, eis a guerra.
A afinidade
não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente
dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de
falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade
por pessoas a quem apenas vemos passar,
por vizinhos
com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade
com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,
veremos ou
falaremos.
Afinidade é
retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar
o tempo da separação.
Porque tempo
e separação nunca existiram.
Foram apenas
a oportunidade dada (tirada) pela vida,
para que a
maturação comum pudesse se dar.
E para que
cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão
do outro sob a forma ampliada e
refletida do
eu individual aprimorado..."
- Arthur da Távola -
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