Não... Depois de te amar eu não posso amar mais ninguém. De que me
importa se as ruas estão cheias de homens esbanjando beleza e promessas ao
alcance das mãos; se tu já não me queres. É funda e sem remédio a minha
solidão. Era tão fácil ser feliz quando estavas comigo. Quantas vezes sem
motivo nenhum, ouvi teu riso, rindo feliz, como um guizo em tua boca. E a todo
o momento, mesmo sem te beijar, eu estava te beijando... Com as mãos, com os
olhos, com o pensamento, numa ansiedade louca. Nossos olhos, ah meu Deus, os
nossos olhos... Eram os meus nos teus e os teus nos meus como olhos que dizem
adeus. Não era adeus, no entanto, o que estava vivendo nos meus olhos e nos
teus, Era êxtase, ternura, infinito langor. Era uma estranha, uma esquisita
mistura de ternura com ternura, em um mesmo olhar de amor. Ainda ontem, cada
instante uma nova espera, Deslumbramento, alegria exuberante e sem limite. E de
repente... De repente eu me sinto como um velho muro. Cheio de eras, embora a luz
do sol num delírio palpite. Não, depois de te amar assim. Como um Deus, como um
louco, nada me bastará e se tudo tão pouco. Eu deveria morrer...
- Pablo Neruda -
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