"Ainda estou viva, mas já morri muitas vezes.
Morro a cada vez que o amor morre, e, por mais que eu lute, ele está sempre
morrendo dentro de mim. A cada morte, o mesmo ritual: o enterro bem no fundo do
peito, e começo a construir muros e torres com palavras ao redor do coração
para que ele não volte. Mas ele sempre volta. Por mais que eu pense, por mais
que eu fale, por mais que eu articule. Por mais que eu envelheça, inteligente e
culta, acreditando-me superior à ingenuidade do amor, ele sempre volta. Há
vezes em que volta destruindo tudo... Em outros momentos, o amor chega como uma
brisa silenciosa e persistente, infiltrando-se nos pequeninos espaços entre uma
letra e outra, e quando dou por mim ele embaralhou-as todas e já não sei mais o
que estou dizendo. Porque é essa a maior arma do amor: ele me faz renascer em
novas palavras inventadas a dois, palavras doces, palavras vorazes, palavras
belas, ou até mesmo palavras cruéis, não importa. Podem até ser palavras feitas
de silêncios, desenhos ou números. Sua força não está no conteúdo, mas no modo
como, ao escrevê-las, elas se inscrevem em mim. Quando sinto aquelas novas
palavras tatuadas na pele e na alma, já sei: estou prestes a morrer mais uma
vez."
- Carina Destempero -
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