Morro
de sede em frente à fonte morre de fome em frente ao pote. Ando sedenta da água
dos teus poros, que me lavavam e me serenavam, caíam em brisas, varriam os
desgostos da tua pele que eu via de olhos vendados e também nos dias das
cegueiras, quando o mundo parecia descolorido. Ando sedenta, morrendo em
secura, a derme trinca, racha, machuca os olhos do coração. Ando sedenta da
gota que eu ganhava, do mar onde eu nadava... Tudo é desconsolo e aridez. Às
vezes, bate um respingo e eu lambo com os olhos, o pouco que seja, mas isso me
mata. Sou pouco, eu já tive muito.
Meus
olhos não se fecham, teimam em ficar abertos, arregalados, à espera, como se um
piscar pudesse me arrancar de vez de você. Finjo estar viva, mas estou quase
morta. A fome é um vazio no peito, insaciável. A fome diz de você, e eu me
acabrunho e me escondo. Eu não sabia que poderia morrer assim, de forma
escondida para ninguém ver. Doem meus ossos, minha cabeça gira, perco-me na
fome constante e é essa constância que mata, pois eu já tentei matar você para
me salvar. Eu não o amo com o amor dos romances, eu não o desejo com o ardor
dos amantes, eu sou abstinência de você.
Há
um veneno subindo e descendo pela garganta, meus pés andam feito chumbo em chão
de algodão, não sei se o que passa longe está perto, tento lhe roubar com os
olhos, mas você se fechou em corpo aberto, de tão poderoso que é, cortou a
linha tênue que nos unia.
Sou
hoje abstinência de você, eu não o amo, sou um corpo que deixou de ter o seu,
sou alma que perdeu o fino frescor, ameno, delicado...
'I
will die'.
-
Suzana Guimarães -
Minha querida
ResponderExcluirSaudades de passar aqui...como sempre um texto maravilhoso e bem escolhido.
Um beijinho com carinho
Sonhadora